Eu, mulher negra, RESISTO!
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Quando os oprimidos se unem, nenhum coração se divide
"...
Vai o bicho homem fruto da semente
Memória!
Renascer da própria força, própria luz e fé
Memorias!
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós
História!
Somos a semente, ato, mente e voz
Magia!..."
Quanto mais um assunto cria raízes numa sociedade, mais difícil é falar sobre ele. Hoje há uma eferverscência de assuntos importantes sendo discutidos, tanto na internet quanto fora dela, e uma união maior pra lutar contra os padrões impostos,sejam eles sexuais, religiosos ou que envolvem sexualidade. Acredito que muito dessa união é favorecida pela internet e as redes sociais. Numa rede social é fácil aprender, aparece algo na sua linha do tempo, normalmente leituras curtas num cartaz . Você clica num botão e replica a informação. Informações simples como “ Homofobia é Crime” ou “ Racismo Não”, são pequenos exemplos de informações que rapidamente podem ser replicadas e de alguma maneira abrir uma discussão entre um grupo de pessoas, essa discussão pode levar para qualquer lado, e esse é o problema da internet. Sabendo desse problema, vários grupos sociais que antes só se juntavam em lugares físicos, começaram a se agrupar na rede em forma de “comunidades”, estas servem para traçar estratégias e ações de combate ao machismo, racismo,
homolesbotransfobia
, gordofobia, preconceito contra deficientes, desvalorização dos professores e etc. As ações começaram a ser pensadas e construídas nas redes, e foram cavando mais espaço. Muitas lutas começaram do zero e hoje tem uma visibilidade boa, é muito bonito acompanhar esse fenômeno, e principalmente fazer parte dele em algum grau. Acontece que a impressão que tenho é que alguns temas tem abertura melhor na sociedade, outras são mais complicadas de serem tratadas.
Na internet já li varias vezes comparações entre o movimento negro e o movimento gay, sempre ouço ou leio que o movimento negro deveria usar as mesmas estratégias que dão certo na militância gay, pra ter os mesmo sucesso também. Por muito tempo li e ignorei esse assunto, mas com o lançamento do comercial da NATURA para os dia das mães, onde um casal de lésbicas foi incorporado à propaganda, mas não há nenhuma mulher negra, resolvi pensar se as reivindicações sobre os direitos homossexuais são melhor absorvidas socialmente do que as reivindicações do movimento negro, e conclui que é bem complicado fazer essa comparação porque são duas lutas legitimas, que se as pessoas puderem, elas não discutem e invisibilizam. Pois bem, existem negros no Brasil desde o país começou a ser desenhado, essa parte da história conhecemos bem: negros escravizados, estigmatizados e violentados. E, desde quando existem homossexuais aqui? Homossexuais estão bem invisíveis ainda para a história, Luis Mott em seu livro “ escravidão homossexualidade e demonologia” narra sobre a existência de homossexuais aqui no Brasil durante o período colonial, mesmo com ressalvas ao autor do livro, há informações bem interessantes já que o tema é raro. Se durante o registro da nossa história, negros foram retratados de maneira muito incompleta, errônea, preconceituosa e criminosa; homossexuais foram invisibilizados. Eu entendo que as duas formas de tratamento histórico e social são bem graves porque as duas geram um desconhecimento profundo daqueles que convivem conosco [ negros e homossexuais] e favorece a construção inadequada e quase sempre criminosa desses dois grupos.
Gays Negros Por Justiça e Respeito
Ontem e hoje, temos o racismo que maltrata, machuca e exclui a população negra das decisões do país, exclui porque não dá oportunidades iguais de emprego, estudo e uma convivência social saudável. Mas também ha conquistas, como a lei 10639, que defende o ensino de história da Africa e dos negros no Brasil em sala de aula, enquanto que a emenda que inclui gênero e sexualidade no Plano Nacional de Ensino, foi retirada, e até agora não encontrei uma justificativa descente. Então, nos próximos 10 anos ( que é o tempo que vigora essa decisão sobre o PNE) estaremos muitos passos atrás de poder ter um ensino que chegue perto de algo que pudesse ser chamado de igualitário. Pois bem, a população negra tem a lei 10639 que protege e garante o ensino de história da Africa em sala de aula, mas garante como, se não há preparo dos profissionais? Os alunos de licenciatura estão saindo dos cursos “boiando” completamente no assunto, e pensando em continuar com a pratica que é tão comum hoje: Incluir a história da Africa e do Negro no Brasil dentro da semana do dia 20 de novembro, quando comemoramos o Dia da Consciência Negra. isso é um desrespeito gigantesco e não chega nem perto do ideal.
Então, tanto quem luta pelos direitos homossexuais quanto quem luta pela igualdade racial precisa contar com a militância e o jogo de cintura pra lidar com esses temas dentro das escolas e universidades. A união dos militantes do movimento negro através das redes sociais fez com que muitas pessoas tomassem conhecimento das pautas do movimento negro, antes desse ajuntamento nas redes sociais ,era bem comum que as pessoas pensassem que a população negra não reivindicava nada, não lutava por nada. As campanhas
REAJA OU SERÁMORTO, REAJA OU SERÁ MORTA
e a campanha
CONTRA O GENOCÍDIO DAJUVENTUDE NEGRA
, são as campanhas mais conhecidas da internet, além da luta pelas cotas raciais.
Essas duas campanhas se tornaram famosas porque é crescente o noticiamento de desaparecimento e morte de jovens negros no Brasil. Em 2010, 74,6% dos jovens assassinados eram negros, esse número é muito alto e causa muitos traumas. Entre os homossexuais também há um extermínio, causado pela
homofobia,
assassinatos que há pouco tempo entraram para os dados oficiais e ainda não há dados significativos para os crimes relacionados à Lésbicas, estes entram nas estatísticas, como violência Doméstica. Fato é que segundo o Grupo Gay da Bahia um homossexual foi morto a cada 28 horas em 2012. Os gays são as principais vítimas: 188 (56%), seguidos de 128 travestis (37%), 19 lésbicas (5%) e 2 bissexuais (1%). Conforme o GGB, o Brasil confirma a posição de primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, concentrando 44% do total de execuções de todo o mundo. Ou seja, a situação não esta boa pra nenhum dos dois grupos. Ainda acrescento que, entre os assassinados de homossexuais, quantos destes são negros? Estou quase certa que no mínimo metade. Sim, estou afirmando que ser negro e gay/lésbica/travesti/transexual é pior , pois esta exposto a mais de um tipo de preconceito ao mesmo tempo. Muitas pessoas irão achar que a comparação do genocídio da população negra com as mortes de homossexuais é injusta, considerando que morrem muito mais negros, e dentro desse questionamento eu coloco uma frase que ouvi muitas vezes de conhecidos, “ È possível esconder que é gay, mas não é possível esconder que é negro” sim, quase sempre é possível esconder que é homossexual e nunca é possível esconder sua negritude, acontece que há muitos casos onde não é possível esconder e o principal, nós não queremos esconder que somos homossexuais, e pagamos o preço com nossas vidas, assim como as pessoas negras que são mortas porque nasceram assim.
Tornando a comparação possível, claro entendendo suas proporções. Seguindo o pensamento e já tendo delineado na mente ,que os dois grupos sofrem de males bem parecidos, há momentos em que a história nos prega peças pois já ouvi mais de uma vez num daqueles momentos de conversa quando buscamos conforto nos amigos homossexuais. Ouvi conversas onde pessoas negras se mostram extremamente homo/lesbo/trasfóbicas e casos onde a família aceita o filho/a homossexual mas rejeita o companheiro negro, que o filho apresenta para a família. Da mãe de uma das namoradas que tive, ouvi: “ Além de Lésbica ainda namora uma mulher preta”?. Questões como estas mostram que nenhuma das duas situações são tranquilas, o obscurantismo produz vitimas tanto entre homossexuais quanto entre negros e cada grupo esta militando ferozmente pra conseguir direitos iguais porque os dois grupos são excluídos, e quando se trata de desigualdade, é cruel listar qual desigualdade é pior . È bem difícil andar dentro do coração do outro pra saber o quanto aquilo dói. Gays, Lésbicas, transexuais, travestis e bissexuais querem suas identidades reconhecidas pra poderem viver bem e de acordo com quem são por dentro sem perder nada com isso, assim como negros reivindicam o direito de ter os cabelos naturais, religiosidade respeitada, cor da pele respeitada sem perder nada com isso. Ambos os grupos lutam e caminham há muito tempo, cada um do seu jeito e com suas conquistas merecem respeito e apoio.
2 comentários:
Unknown
10 de maio de 2014 às 07:02
Ótimo texto, Aline! Gostei das suas colocações.
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Unknown
14 de maio de 2014 às 15:26
Muito obrigada pela visita!
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Ótimo texto, Aline! Gostei das suas colocações.
ResponderExcluirMuito obrigada pela visita!
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