Eu, mulher negra, RESISTO!
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Obesidade NÃO é o botão do seu jeans não fechar.
Esse texto é o inicio de uma discussão que vai acontecer em algumas postagens, não sei quantas ainda. Inicialmente seria apenas uma, mas conforme fui desenrolando o assunto percebi que são muitos detalhes que não podem ser ignorados. O corpo das mulheres negras é alvo, a mente das mulheres negras é alvo e o afro feminismo historicamente nos acolhe, conforta, cuida, renova e fortalece pra luta diária que nunca foi tranquila frente os avanços para nos oprimir e excluir. Nesse sentido, vou falar sobre gordura e obesidade.
Lembro que, nossa luta é e sempre foi diferente, nosso caminho de construção enquanto mulheres e irmãs negras tem um histórico diferente da construção e avanços na luta feminista branca
s, desse modo c omo nós, mulheres negras e feministas podemos cuidar uma das outras no sentido de
irmandade
sem sermos omissas aos problemas reais que estas situações podem nos trazer? Como nos manteremos fortes e unidas contra o patriarcado? O que a gordura do meu corpo tem a ver com a luta feminista?
Ser Gordo/ Estar Gordo
A condição de identificar-se como gordo, ou ser assim identificado, não depende exatamente do número que aparece na balança quando você sobe nela. Ser/estar gordo depende muito da cultura em que você está inserida, e como os padrões de beleza operam dentro dela. Aqui no Brasil ser/estar gordo tem muito mais a ver com a forma do seu corpo do que com o seu peso em si. Por exemplo, uma mulher com 1.70 de altura e 80kg pode ser gorda se ela apresentar culote e excesso de barriga, mas uma outra mulher com o mesmo peso e altura pode ter um corpo sem excessos por causa de sua genética ou pela
frequência
da pratica esportiva . O que eu estou dizendo é: ser/estar gordo depende muito mais do que as pessoas podem ver, não importa tanto o número. Tá, mas ainda assim existe um padrão de beleza que varia muito dentro do próprio Brasil, padrão este que muda muito em pouquíssimo tempo (ora quer que as mulheres tenham seios grandes, ora pequenos e etc) e é esse padrão que prejudica, entristece e classifica as pessoas como gordas que em nossa sociedade traduzindo quer dizer: feia, inadequada, relaxa e outras coisas ruins.
Ser gorda é quando o ziper da calça aperta, quando o botão não fecha e, sobretudo, quando alguém te alfineta e diz que você está gorda. Normalmente é o outro que faz essa classificação. A saída pra isso pode ser se autoconhecer e se libertar do padrão de beleza imposto e aceitar-se como gorda, se pra você estiver ok. Qual o problema em não ter aquela barriga retinha? Ser gordo é um direito, porque não? Ou você pode fechar a boca uns dias, malhar e se adequar ao padrão de beleza atual, se isso vai te deixar mais tranquila. Há pessoas que preferem estar dentro daquilo que a sociedade vendeu pra ela como corpo perfeito.
Obesidade
A
qui o negócio é mais sério. Antes de escrever qualquer coisa eu preciso dizer: obesidade é uma doença, ser gordo não é. Tá, o que é obesidade? Uma pessoa estar obesa NÃO é quando uma roupa que ela sempre usa fica apertadinha, usava 38 e agora usa 40. A obesidade é classificada quando uma pessoa está 30, 40, 50, 60 quilos acima do peso ideal. Uma pessoa com 50 kg a mais de um peso considerado adequado, independente da sua altura ou se pratica esportes, é uma pessoa obesa, e certamente terá consequências disso cedo ou tarde. Além do número na balança, a obesidade se caracteriza por uma série de outras coisas que, em conjunto, formam um quadro de saúde.
É possível uma pessoa com 60 kg acima do ideal ter saúde perfeita?
Não sou médica. Pesquisei muito sobre o assunto e parece que sim, até um momento da vida onde o corpo cansa e começa a falhar, como se o corpo estivesse programado pra viver 60 anos com um peso X, mas por causa do excesso de peso, com 30 anos começa a dar sinais de falha. Esse peso X vai variar de acordo com a idade, sexo, rotina e praticas esportivas de cada pessoa. Por isso, quando uma pessoa gorda vai ao médico, e está com sobrepeso, eles já começam com a ladainha sobre emagrecer.
E, aproveitando pra falar sobre pessoas gordas com saúde perfeita, quantas pessoas que são ou imaginam (porque muitas não se pesam há anos) que estão obesas vão ao médico? nós sabemos que as condições da saúde pública não permitem que a gente vá ao médico quando queremos, e a quantidade de pessoas que têm convênio médico é bem pequena. Muitas pessoas obesas têm vergonha de procurar um médico pra falar sobre isso, porque acreditam que não serão bem tratadas e, infelizmente, é bem comum os médicos olharem pessoas obesas com um olhar de desdém.
E será que estas pessoas que são obesas têm saúde perfeita mesmo? Pois bem, vou listar algumas doenças diretamente ligadas à obesidade: asma, bronquite, diabetes, pressão alta, problemas cardíacos, ovários policísticos, cólica, pêlos no rosto, infertilidade, dores na região lombar, dor nas costas, dor nos pés, falta de ar, úlceras. Todas estas doenças são agravadas pela obesidade e muitas pessoas que nunca teriam nenhuma destas doenças, se obesas podem passar a ter.
"Ah, mas pessoas magras também têm estas doenças"!
Sim, elas têm. Nenhuma destas doenças é exclusiva de pessoas obesas, mas você que esta aí bem acima do peso, se você não fosse obesa possivelmente não teria estas doenças ou se tivesse, seriam menos graves.
Todas as doenças que listei acima são desencadeadas ou agravadas pela obesidade. Em pessoas negras já é comum sofrerem de hipertensão, se obesas a pressão tende a ficar mais alta e mais instável.
Obesidade
versus
auto-ódio
"Manifesto pelas diferenças" realizado por famosas Gordas
Estou obesa. Tenho que me odiar? Os motivos que levam as pessoas até a obesidade são muitos, vai depender do que você acredita. Eu acredito que, pelo menos na minha geração, tem a ver com engolir problemas, decepções, traumas e etc. Independentemente do motivo que levou você à obesidade, é importantíssimo manter o amor próprio. Só se amando muito pra se cuidar e se gostar. Todas as pessoas possuem beleza e sempre há admiradores para todas as pessoas. E não estou sendo política, acredito mesmo nisso. Só que acredito também que quanto mais a gente se gosta, mais fácil é de alguém gostar de nós.
Odiar-se e odiar seu corpo só vai te faze rmal.
Entenda, se você prefere continuar obesa, é importante que seja uma decisão consciente dos problemas que podem vir pela frente, e certamente virão. E se você é obesa e decidiu mudar, emagrecer ou só cuidar melhor de você (massagens, adereços e etc) você pode! Você deve! Qualquer hora é momento de mudar e manifestar que esta se amando mais e só você tem o direito de exigir mais de você, as mudanças sejam elas quais forem partem de nós. Sinta-se linda e seja linda.
Ensaio sensual com modelos obesas
O que acredito que seja preocupante é quando nós ficamos tão aprisionadas dentro do corpo gordo que construímos que não conseguimos enxergar mudanças, e então passamos a explorar a obesidade de uma maneira ilusória, dando a ela qualidades que não existem. Nesse sentido é importante ser responsável, muitas vezes o auto-ódio vem disfarçado de amor próprio e é irresponsável tratar a obesidade como forma saudável de vida, principalmente influenciando as pessoas a ficarem obesas também. É fácil ligar os pontos “A fulana é obesa, mas é super saudável, porque eu não posso”? Aqui, retorno ao que escrevi acima: Será que é mesmo saudável?
Sabemos que é bem fácil engordar e, se uma pessoa que já está obesa, já está desanimada, chega nesse discurso que aparentemente é de amor e auto cuidado, é bem fácil se deixar levar e piorar o que já estava ruim. Acredito que ninguém quer ser responsável pela vida do outro, né? Mas quando damos muitas qualidades à obesidade, indiretamente estamos caminhando num terreno arenoso. Uma coisa é estar
obesa
e consciente dos problemas, continuar assim, na boa, sabendo dos problemas que você está permitindo que aconteçam na sua vida. Outra coisa é perceber-se obesa e iniciar um processo de auto-ódio, destruindo a si e a quem rodeia com exemplos ruins. Exemplos de autodestruição: “Ah, já estou gorda mesmo, vou comer tudo o que quero.” “Ah, nunca vou conseguir perder peso suficiente pra ficar fora dos riscos de saúde, então vou arrumar um jeito de justificar isso”.
Dentro desse universo do auto-ódio, há ainda as pessoas que são obesas e que buscam se autoafirmarem por meio dos elogios alheios. Como assim? Você é obesa, todo mundo sabe disso, mas as suas amigas/os que vivem dizendo que você é linda assim do jeitinho que é, que queriam ter essa ou aquela parte do corpo igual a tua e garantem que você
ahaza
. Mas todas elas são magras, e querem continuar assim, ou são gordas tentando se adequar ao padrão de beleza. O que isso tem de ruim? Dentro desse discurso “as pessoas me amam do jeito que eu sou”, a pessoa que é obesa não percebe que está caminhando para permitir que problemas de saúde surjam a partir da obesidade que, nesse ponto, nem parece ser grave, já que “você não é tão gorda assim”.
No máximo, são pessoas que gostam de você e acham que assim vão ajudar sua autoestima e te ajudar a viver melhor. Mas, só você sabe o que é viver no seu corpo e, na hora da paixãozinha ou do sexo, você descobre que na prática o discurso é ilusório, e se frustra muitas vezes porque pra uma pessoa obesa é mais difícil paquerar. E nessa frustração o que vai acontecer? A pessoa que é obesa, vai comer mais e piorar sua saúde.
E dentro de tudo que faz mal, acaba se apegando nesses elogios pra se manter bem, mas até quando? E à custa do que?
Na real, nenhuma delas sabe o que é ser você, como é estar no seu corpo e receber rejeição em cima de rejeição e de uma forma absurda tentar amenizar isso. Não estou dizendo que por ser obesa você não é linda e não arrasa conquistando vários corações. Eu estou dizendo que, muitas vezes, as pessoas que estão em volta reforçam que esta tudo bem, tudo ótimo e tudo lindo e, com isso, desencorajam a mudança, tiram suas armas de luta. Muitas vezes eu ouvi: “Você não é obesa”. “Ah para! Você é alta, nem é gorda”. Essas coisas fizeram com que eu percebesse a gravidade da coisa tardiamente e percebo que isso acontece muitas vezes, principalmente quando a pessoa obesa quer se enturmar. Já ouvi a estupidez que se uma pessoa obesa quer emagrecer ela está caminhando a favor do padrão de beleza, "então fique gorda e resista contra o capital, resista contra a mídia! Se entupa de doces,
fast food
e gordura"!
Yes
! Mas estar na sua pele essas pessoas não querem. Então, não se odeie e não internalize essas coisas que no fundo destroem você. Mas também não caia na armadilha de se apoiar na auto estima, se apoiar completamente na beleza com certeza vai querer fazer você entrar na roda de opressão, querer fazer parte de algum jeito, mesmo que te cause danos emocionais. Fazer parte vai te fazer sentir-se um pouco melhor, mas não vai te libertar, porque a sociedade não te ama, a sociedade é doente e quer adoecer você, quer fazer você correr loucamente para se enquadrar, fazer parte.
Gordofobia
Tá aí o que atrapalha todo mundo e gera o auto-ódio, tanto no seu formato pessoal - quando as mulheres que se odeiam por estarem obesas e acham que nunca irão seduzir alguém e nunca poderão ser representadas em nada - ou quando, em nome do auto-ódio, propagandeiam a obesidade como algo bom, saudável, normal e tranquilo.
Uma coisa é sua colega te chamar de “gorda” pra ofender (porque dentro do padrão de beleza ser gordo é ruim), outra coisa é você ser obesa e te negarem emprego, fazerem piadas, apontar, e tem pessoas que sentem até nojo e fazem questão de demonstrar isso.
Percebe a gravidade?
Uma pessoa gorda tem problemas com o padrão de beleza, por estar fora dele.
Mas não perdem empregos (a não ser os empregos ligados a moda ou comissárias de bordo, por exemplo), normalmente as pessoas não têm nojo e é perfeitamente possível ser gorda e ter uma vida normal.
Uma pessoa gorda pode se libertar dos padrões impostos pela sociedade e viver bem.
Uma pessoa obesa além de ter os traumas causados por não estar dentro do padrão de beleza, enfrenta preconceito com as pessoas desconhecidas (quando são apontadas, olhadas com nojo), com familiares (fazem piadas e consideram a pessoa obesa preguiçosa e relaxada), no serviço público (são humilhados em hospitais porque todos acham que a pessoa é obesa porque é preguiçosa, muitas vezes o transporte público não tem lugares adequados pra eles se sentarem, muitas vezes não passam na catraca e o cobrador de ônibus, junto com os passageiros, tira sarro) e, tudo isso, agravados por problemas de saúde.
Viu como é diferente?
Cada obeso encara isso de uma forma diferente, há pessoas que só ignoram e vivem como podem, outras se encolhem e abrem mão da vida social e outras se colocam como motivo de piada, achando que assim fica mais fácil lidar com o assunto. Não importa a forma que o obeso age, a gordofobia é que gera essas “escolhas” e não é justo uma pessoa se modificar, seja se escondendo do mundo ou se transformando em motivo de riso porque tem um problema e não sabe como resolvê-lo.
Quando a pessoa obesa é negra, o sofrimento dobra, as comparaçõese xingamentos tendem a ser mais cruéis,
o que acaba agravando a saúde, aumentando a pressão arterial e favorecendo o infarto, por exemplo.
A educação contra a gordofobia precisa melhorar e seguir em frente. Bancos mais largos, catracas adequadas e roupas maiores com preço justo, porque ser gordo não tem nada a ver com ter dinheiro sobrando e roupas pra gordas são bem caras! Tudo isso é uma preliminar pra poder tornar a vida das pessoas obesas menos difícil. Também ajuda se você, que conhece alguém obeso, evitar impor-se sobre o corpo do outro dizendo o que ele deve ou não fazer, ou minimizando chamando de “gordinha” ou contrariando quando a pessoa afirma estar gorda. Se não for uma pessoa que realmente esteja bem longe de estar obeso, evite oprimi-la, porque você não sabe o que ela passa com ela. Gordofobia é também tentar assimilar o problema do outro pra poder aceita-lo, não faça. O certo é respeitar as pessoas e deixá-las à vontade pra se manifestar. Apoiar as reivindicações das pessoas obesas e entender que estas reivindicações (bancos mais largos no transporte publico, auxílio melhor no SUS etc) não iriam estimular o aumento de peso, só deixariam as pessoas obesas menos desconfortáveis. Outra coisa que deixa pessoas obesas desconfortáveis é ter pessoas gordas reclamando de si mesmas por perto, e irrita porque já deu pra perceber a diferença entre ser gordo e estar fora do nosso padrão de beleza e ser obeso né? Não tente se aproximar de pessoas obesas justificando com “ah eu também sou gorda, tenho 5kg a mais do que deveria”. Então comece a pensar na sua gordofobia ao estar só acima do peso e tentar se comparar com uma pessoa obesa pra tentar mostrar compaixão.
Obesidade Infantil
Eu não tenho crianças próximas a mim, por isso não sei muito o que dizer sobre isso, mas achei importante registrar que é um aspecto importante dentro dessa discussão. Todas as terças, quando vou à feira, sempre passo por uma criança que eu acreditava ter 12 anos. A criança é obesa, tem dificuldade pra andar, correr nem pensar e todas as terças ela esta lá, na banquinha de pastel. Outro dia, parei pra comprar caldo de cana, e ouvi a mãe dela conversando com a vizinha, a criança tem 9 anos e já menstruou, segundo ela o médico disse que é por causa da obesidade. Fiquei bem triste, mas não com dó. Também vi um programa na TV, no H&H que falava sobre crianças obesas. Crianças de 12 anos que nunca haviam comido uma fruta fresca, muitas só comem enlatados e a maioria come refeições a base de batata e macarrão. Esse programa não falava das crianças brasileiras, mas já percebo o reflexo dessa cultura por aqui. Outro dia, no ônibus, observei uma mãe com um bebê, na mamadeira tinha coca cola. É bem comum a gente ver crianças comendo salgadinhos, iogurtes e outras coisas que até prometem ser saudáveis, mas sabemos que não são. E, se uma criança é obesa, é porque alguém permite e favorece.
Os adultos podem escolher, as crianças,não. As crianças precisam do controle dos pais pra saber como sealimentar. Se você, pai ou mãe, é obeso e não quer mudar, eviteque seu filho/a trilhe o mesmo caminho que você.
Obesidade x Saúde Pública
Nós sabemos como é a saúde pública no Brasil. Existem muitos problemas no atendimento: demora, filas, falta de lugar adequado para receber os pacientes, gordofobia e racismo. É bem comum médicos e enfermeiros serem bem agressivos com pacientes obesos, reclamam que os pacientes estão com as doenças agravadas por causa do peso, mas a reclamação não é informativa, pelo contrário, está ligada à humilhação. O racismo, nós sabemos que existe há muito tempo, até a secretária da saúde já admitiu e, unindo as duas coisas, racismo e gordofobia, a chance de uma pessoa obesa deixar de receber os cuidados ideais dentro de um sistema normalmente péssimo de saúde é bem alta. O Ministério da Saúde já percebeu que os brasileiros estão ficando mais gordos, por isso aprovou alguns medicamentos associados à doenças da obesidade para serem distribuídos gratuitamente, remédios contra asma, bronquite, pressão alta, diabete e outras doenças podem ser retirados nos postos de saúde (quando tem estoque).
Além disso, o SUS paga a cirurgia do estômago. Sim, se você for identificado com doenças crônicas ligadas à obesidade você tem direito à cirurgia. Mas você já viu como a cirurgia é agressiva? Sim, ela é, e muito! É um processo bem complicado, entre ser avaliado e aprovado para a cirurgia e realizar a cirurgia em si, esse processo é bem doloroso e agressivo, principalmente porque você vai ver muitas pessoas que estão na fila com você sofrer e até morrer. O tempo de espera hoje em São Paulo chega a 3 anos.
Existem estudos que dizem que 50% das pessoas que realizam essa cirurgia voltam a engordar. Mas por quê? A cirurgia é ruim? A pessoa é uma sem vergonha? Não, nada disso. A obesidade como eu já disse, é uma doença, e uma doença que não se cura só com cirurgia, é preciso entender por que a pessoa engordou e melhorar esses sintomas, e é possível fazer isso sem cirurgia. Não critico de forma alguma quem recorreu à cirurgia bariátrica, já li e vi reportagens, são pessoas que sofrem muito e muitas vezes estão muito deprimidas, respeito principalmente pela
coragem de se propor a mudar, sãopessoas muito corajosas que enxergam na cirurgia a única maneira deconseguir.
Mas voltando, a fila do SUS é imensa pra fazer esta cirurgia e nem sempre o acompanhamento psicológico é ideal, e aí os obesos sofrem. O meu recado é direito, você que é pobre, negra e obesa, sabe que vai sofrer muito no atendimento do SUS né? Sofrerá gordofobia, racismo e os problemas normais do sistema público de saúde. Nossa vida é feita de escolhas, é possível se deixar levar e não escolher nada, mas é perigoso. Na hora “H” é vocês por vocês mesmas, então é bom dar uma olhada no que é possível mudar pra melhorar sua saúde ou a saúde das crianças. Não estou dizendo que sendo negra e obesa e sofrendo gordofobia dentro do SUS a culpa é sua porque você escolher isso, então se vira. Eu estou dizendo o que ninguém nunca me disse, e principalmente que é importante tentar frear os sintomas da obesidade evitando mais sofrimento.
Concluindo
Adicionar legenda
Fui uma criança gorda, uma adolescente magra e uma mulher obesa. Ser obesa não me dá aval pra falar qualquer bobagem e ser aceita, nem acusar de gordofóbico qualquer pessoa que me indicar uma melhora, mas me permite reconhecer os perigos que eu me permiti passar e, reconhecer que, muitas vezes, as pessoas são intrometidas sim, mas outras vezes estão apontando um risco que é conhecido delas. Eu detesto que falem sobre meu peso, ninguém tem o direito de me indicar tratamentos sem que eu queira ou insinuar qualquer coisa, mas é preciso estar lúcida sobre nossas condições de saúde. Encarar essa condição é um processo; muitas vezes longo e doloroso, mas como se amar e se cuidar, de fato, sem estar ciente de si mesma?
Dentro disso tudo, ser obesa me dá o aval pra me posicionar e dizer muitas coisas que ninguém diz sobre obesos. Ninguém parou pra me ensinar a comer ou pra me dizer o que era a obesidade quando eu estava gorda, por isso acredito que as pessoas obesas têm que se enxergar no mundo e se posicionar, porque são posicionamentos diferentes, mas o ponto de partida é o mesmo: Gordura não é doença, obesidade é. E
frequentemente
as pessoas fogem da palavra obesidade acreditando que assim o problema esta resolvido, não esta.
Estou também intrigada sobre o aumento da obesidade ao mesmo tempo que o capitalismo incorpora essa nova massa compradora com os mesmos atrativos que usa pra desmoralizar e excluir os obesos. É bem perigoso
glamourizar
a obesidade e, tão perigoso quanto, é esconder informações das pessoas. Não sabemos o que comemos, não sabemos o quanto essas coisas fazem mal, e o estresse do dia a dia nos deixa mais ansiosos, o racismo que engolimos dia a dia pra poder continuar vivendo nos faz engordar, e daí pra atingir a obesidade é um pulo. É preciso falar sobre ser/estar gordo e sobre ser/estar obeso, porque fingir que é comum, que é bonito e que é só mais uma escolha pode ser bem perigoso no contexto em que vivemos, onde as escolhas acontecem tardiamente e, muitas vezes, nem chegam porque a estrutura não permite que mulheres escolham as melhores opções para suas vidas.
Leia aqui a continuação
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Postagem mais recente
Postagem mais antiga
Página inicial
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário