Eu, mulher negra, RESISTO!
terça-feira, 27 de outubro de 2015
No espelho, é uma mulher preta ou um blackface?
Reflexões direcionadas a menos de 1% da população negra brasileira.
Quando algumas teóricas, principalmente feministas falam em seus textos sobre "ser liberal", há uma confusão no entendimento do sentido de liberalidade, sendo tratada as vezes como oposição ao conservador, portanto bom! Vamos refletir um pouco sobre isso? O sentido liberal de se apropriar das ideias e ações tem colocado todas as ações do movimento negro contra a parede pois nessa onda de "quebra de caixinhas", quebra-se também a ideia de cultura afro descendente. Se a ideia da auto identificação é a ideia que esta sendo reproduzida, como então podemos continuar sabendo quem é negro no Brasil? Qualquer ser identificado culturalmente pode ser negro, não é? Pois bem, concordar com isso é ser liberal. Fazer teoria, pensar o futuro, entender as relações raciais academicamente, esta num plano muito diferente das ações, é impossível pensar na materialidade da quebra de caixinhas quando as pessoas morrem por terem fenótipo, cor, religião e cultura ligadas ao continente africano. Pessoas estão morrendo e não tem o poder de se auto identificar branca pra fugir disso.
A auto identificação, parte de um projeto politico liberal, é irresponsável e tem lugar de fala muito bem decretado, afinal, quem tem o poder de se auto identificar numa sociedade racista? Então manas, cuidado. Não é possível escrever sobre apropriação cultural de turbantes e dreads ao mesmo tempo que compactua com a quebra de caixinhas. É preciso refletir sobre o que se esta defendendo., sem promover um estardalhaço quando uma colega usa a palavra -liberal- num texto, reflita sobre que liberal é este, e é em oposição á que? Em muitas discussões já vi a ideia central desaparecer porque ficaram discutindo sobre o uso da palavra liberal seguido por acusações de conservadorismo, por isso achei que deveria desenhar logo no inicio que quando escrevo "liberal", é no sentido de entrar na onda do que deu errado para a convivência das mulheres brancas. e incluir todo mundo dentro dessa lógica sem pelo menos pontuar que tem problemas.
Nós estamos tentando nos incluir em que exatamente? Nós queremos seguir os passos do feminismo branco como se tivéssemos atrasadas, chegando agora nas discussões? Queremos seguir os mesmos passos do feminismo branco criando categorias de mulheres?Será que ainda não estamos contaminadas pelo pensamento da corrente única? É claro que nós temos todo um trabalho de auto estima que é muito recente, mas partir pro viés do consumo de make pra se sentir bonita, aceita, e portanto mulher não irá nos libertar, muito pelo contrário, nós precisamos refletir sobre o que é ser "mulher" pra essa sociedade que estamos tentando nos incluir, será que somos mulheres? ou estamos tentando/querendo ser? Se somos mulheres, a partir de quando isso é real?
Me preocupa que nós pretas, com acesso á leituras diferentes, militantes acadêmicas com vontade e atitude de mudança, estejamos concordando e colaborando pra essa produção feminina preta que não rompe correntes de opressão. Qual a nossa responsabilidade enquanto representantes ? Por mais que queiramos ser estudantes comuns, não somos e não seremos enquanto o racismo excluir os nossos. Por isso precisamos refletir sobre nosso papel enquanto acadêmicas, esse novo lugar. Entendo que representar um povo é também pensar num projeto de futuro, refletir sobre onde estamos indo e se estamos indo. Quando participo de coletivos ou eventos feministas protagonizados por mulheres brancas, percebo que nós pretas estamos anos luz á frente com nossas práticas, mas que enquanto teóricas, estamos repetindo os mesmos erros porque ainda estamos caminhando dentro da lógica eurocêntrica para pensar as mulheres negras na sociedade brasileira. Porque recusamos as produções e reflexões do mulherismo africana? Porque não nos atentamos as produções latino americanas? porque não olhamos para as favelas em volta, para os núcleos familiares não completamente assimilados pela cultura branca? Será que nosso espelho esta rachado? Será que alguns de nós apesar do trabalho com muito amor pela população afro, ainda esta com a máscara branca? Onde podemos buscar estas respostas?
Manas, nós estamos inquietas por esse momento tão esperado pelas nossas famílias e pelas que vieram antes de nós. É um momento de abertura e nós tomamos nós lugares com a força intelectual que temos e estamos brilhando com vários goles de "white tears", brindemos á isso, embora eu prefira outras bebidas. Cá estamos, num momento diferente do que foi a academia para as nossas intelectuais Sueli Carneiro, petronilha, Luislinda e tantas outras que abriram caminho na foice. Nosso tempo é outro, qual será nossa contribuição? O momento é nosso.
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Reflexões inicias sobre a casa grande e os novos hospedes:
Onda Negra medo branco?
É de fácil entendimento para todos nós que o conhecimento é passado de cima pra baixo. Nós, frequentemente nos referidos aos nossos avós e pais como pessoas que nos passam conhecimento, porém cada vez mais nós confiamos nossas linhas de saber para os grandes professores e grandes fazedores de conhecimento. Cada vez mais nossa familia e nossos saberes familiares tem sido deixados de lado, porque? Nós, a população negra e afrodescendente temos em maioria um aprendizado familia muito forte. Sabem a conhecida 'história Oral"? então, nós sabemos o que é isso desde que eramos pequeninos e nossa avó ou avô nos chamou de canto pra passar algum conhecimento de familia. Porém, estamos deixando de lado. E, além de não reconhecermos nossas histórias como parte do mundo e parte de nós, estamos nos conectando aos grandes fazedores de história e quanto mais o sujeito parece sabido, mais acreditaremos no que ele diz. Quanto mais o sujeito parece importante, mais nós nos ligamos em suas palavras. E é desta maneira que nós estamos sendo enganados rotineiramente e nossa história sendo colocada como menos importante e subitamente colonizada por esses doutores do saber. Até hoje, nós, a população negra tivemos acesso aos grandes saberes através dessas bocas, dessas línguas e vozes afiadas que cortam nossa alma, nossa vida e impede ou tenta impedir que nosso espelho faça o reflexo do nosso ser, do nosso eu.
Nenhuma novidade até agora, a novidade é que a partir da implantação das ações afirmativas e do nosso acesso ás universidades, também tivemos acesso ao grande saber do homem branco e acesso ao banco de dados do mundo. Agora nós temos papéis (diplomas) que permitem que sejamos pesquisadoras e produtoras do saber. Somos poucos, dados recentes informam que na pós graduação do Brasil inteiro, os negros são 1%, e ainda sim metemos um medo danado. Eles morrem de medo que a gente perceba que eles nos deram espelhos quebrados, sujos e faltando partes, morrem de medo do que isso pode causar. O que será que pode causar?
A configuração das universidade hoje é muito interessante, os brancos ingênuos, com o pensamento colonial liberal, que acreditam que nos fizeram um favor com as cotas raciais nos dão boas vindas, mas ficam em choque quando nos posicionados. Quando nós falamos a partir de nós, recusando ou deixando de lado os heróis deles, eles ficam magoados e gritam, nós estudamos. eles reclamam de tudo porque aquele lugar é o lugar natural deles, tudo já esta assimilhado então até ganhar dinheiro pra estudar esta ruim, eles choram e nós estudamos, pensamos, articulamos. Eles brigam entre eles, alguns são a favor de estarmos ali, outros contra, mas apesar das brigas eles se resolvem no bar, nós pesquisamos, analisamos e aprendemos. Os brancos ardilosos ficam na espreita, fuçam a vida de todos os alunos negros que se posicionam, nos olham desconfiados e procurando uma brechinha pra nos atacar, deslegitimar e contrapor, eles leem sobre nós, desconfiam de nossas produções, pensam articulam e planejam, tudo dentro da visão eurocêntrica deles pensando em colocar os pretos no seu lugar. Nós contamos com nossa rede pra saber quem são os brancos articulados,ignoramos, cantamos dançamos e damos risada, fazer o que depois de tanto estudo? eles pensam que queremos provar pra eles que podemos, não é engraçado? Eles nos pedem gratidão, não sei se deveríamos estar gratos pelo racismo institucional que permite que a gente entre mas que não pensa nenhuma politica de permanência, fazendo que a gente se vire dentro de um lugar hostil e desconhecido, ou talvez a gratidão seja porque eles acolhem os negros que não se posicionam, aqueles que ainda veem nos brancos um lugar seguro pra poder fazer parte da casa grande. Estrutura colonial né? deve ser á isso que devemos ser gratos. "Mais amor por favor", eles dizem enquanto defendem a permanência da estrutura colonial dentro da universidade. Ora, nós estamos bem á frente, mas se é lógica colonial que eles querem, saberão como funciona um quilombo. Mas nós somos sérios e responsáveis, temos um plano de futuro que não imprime mais essa lógica de mundo, então é só uma amostra.
Força Povo, 4p!
"A educação é um elemento importante na luta pelos direitos humanos. É o meio para ajudar os nossos filhos e as pessoas a redescobrirem a sua identidade e, assim, aumentar o sua auto-respeito. Educação é o nosso passaporte para o futuro, pois o amanhã só pertence ao povo que prepara o hoje. Por isso, n
ão lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos."
Malcolm X
sábado, 21 de março de 2015
Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial
21 de março, é o “Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial”. A data foi escolhida em memória ao episódio conhecido como “Massacre de Sharpeville”. Em 21 de março de 1960, na cidade de Sharpeville, África do Sul. Estudantes realizaram uma manifestação, contra a Lei do Passe, que cerceava a livre circulação da população negra para determinados lugares. Os negros,
maioria absoluta da população sul-africana, recebiam do governo o pior tratamento: as piores escolas, os piores hospitais, as piores residências e grande exploração no trabalho, pois eram considerados pelas leis do Apartheid como seres inferiores em relação aos brancos. Durante o protesto, o exército atirou sobre a multidão matando 69 pessoas e ferindo outras 186. O fato "abalou" o mundo e a data foi instituída para a reflexão sobre a luta do povo negro contra a discriminação.
Sharpeville é aqui.
No Brasil 83 negros são mortos por dia, não precisam fazer nada, reivindicar nada, só precisam ser pretos. Sob o olhar da nossa policia, que a ONU inclusive reconheceu que é assassina e precisa acabar (
leia aqui
) os negros brasileiros são geneticamente perigosos e por isso eles atiram primeiro e pensam depois. E esse pensar depois não significa refletir sobre o crime, mas pensar na desculpa que vão dar caso alguém questione o motivo de ter atirado. Quase sempre eles conseguem convencer as pessoas que aquele preto morto ali, era um bandido, mas as vezes não tem como convencer as pessoas do erro, como no caso Amarildo, ou no Caso da Cláudia onde fica muito aparente a c culpa da policia nos assassinatos. E, mesmo depois de todos terem entendido que o assassinato foi gratuito, ainda há uma manobra gigantesca pra que esses assassinatos sejam ligados ao racismo, porque no Brasil há racismo mas não existem racistas. E se não existem racistas, não há como criminalizar e penalizar o ar, o vento. Com isso os jovens negros, esses 83 que os números oficiais nos dizem, seguem sendo assassinados, e o que podemos entender hoje é que o Brasil sabe que os jovens negros tem mais chances de morrer, reconhece que eles morrem por serem negros mas não se importa com isso, visto que pouco faz para que os racistas sejam incorporados na humanidade e deixem de ser um mito sem identidade social, profissão, CPF e titulo de eleitor.
Acredito também que o genocídio preto acontece de maneira mais ampla, e mata também os negros e negras que permanecem respirando, mas perdem a vida quando são impedidos de ser quem são. Afinal, como ser uma pessoa, um cidadão ou cidadã social quando não tem as condições mínimas pra isso? Ser uma pessoa quando não se tem direito sobre seu corpo, cultura, história e identidade?
Como ser negro sem poder ter um corpo negro? Como existir sem assimilar todas as coisas ruins que acontecem com pessoas parecidas com você? Como explicar pro seu filho que não, ele não é igual as crianças que ele vê na tv?
Nós negros morremos quando as portas são fechadas, quando o futuro é só uma massa cinza e disforme que tira do nosso campo de visão qualquer dignidade possível porque a luta diária é para sobreviver, viver é outra coisa. Na luta pela vida, nós chegamos sempre por ultimo e toda essa exclusão racista acaba nos levando ao álcool e outras drogas, na tentativa de fugir da realidade que é cruel. As drogas sempre são oferecidas para as populações oprimidas, seja pro trabalhador ficar mais tempo acordado gerando mais lucro pro patrão, ou pro jovem negro ficar paralisado entre uma sensação de conforto mental e uma depressão terrível quando volta pra realidade, depressão esta que também paralisa. Navegar pelo mundo confortável e voltar pro mundo original de diversas ausências é um convite, quase um empurrão pra voltar pro mundo mágico e confortável que as drogas trazem. Assim vemos muitos dos nossos perdidos no álcool, cocaína e tantos outros tipos de controle possível. Estão mortos, o racismo matou.
O suicídio é outro que anda ali, de mãos dadas com o racismo. Só ano passado, recebi a noticia de 3 jovens negros de diferentes lugares do Brasil, que se suicidaram, dois porque não aguentaram pressões racistas depois de entrar na universidade, e outro não deixou nenhuma carta, mas os amigos disseram que ele estava triste porque não aguentava mais ser negro. Quantos outros negros se suicidam e não sabem dizer que foi por causa do racismo?. Estes tipos de assassinatos que não entram nas estatísticas do genocídio da população negra, e coloca toda a culpa do fracasso social sob nossas costas. Quantas vezes nós não ouvimos que a culpa é nossa? Faltou esforço, faltou vontade, faltou coragem. Mas quem é que tira nossa vontade? Quem é que criminaliza aquele olhar do branco quando nos diminui, exclui e humilha? Como podemos criar forças infinitas pra viver num Estado racista? As vezes não podemos, e a culpa não é nossa. Por isso enquanto temos forças é preciso falar, escrever, demonstrar e tudo o que for possível para documentar nossas denuncias de racismo. Depois de muitos anos de luta do movimento negro, uma micro
abertura do Estado foi aberta, então vamos alargar essa fissura ampliando o debate para pensar em novas politicas publicas que possam acolher melhor a população negra, porque o racismo ampliou suas formas de assassinato.
Hoje é um dia de reflexão, que seja um dia dos pretos fortalecerem, que seja um dia para os brancos pensarem onde guardam seu racismo e que todos nós possamos pensar como podemos contribuir pra melhorar esse quadro generalizado de mortes com recorte racial, sexual e de gênero. Também é um dia para pensarmos, o que o Brasil esta fazendo efetivamente pra diminuição do racismo? Qual a orientação dada para os veículos de comunicação sobre o assunto? Existe algum tipo de preparação sobre questões raciais que seja obrigatório para pessoas que trabalham com o publico? Existe algum tipo de filme, cartilha ou alguma introdução ao assunto que esteja disponível nos órgãos públicos que informe sobre as leis anti racistas e/ou direitos de pessoas negras? Na saúde, qual é a orientação sobre pessoas negras? Será que o Estado brasileiro ainda nos vê como todos iguais, apesar de ter reconhecido legalmente por meio de ações afirmativas que somos diferentes?
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
Nota de apoio e força a coletiva feminista radical MANAS CHICAS
"Nós somos o canto dos que nos julgaram mortas"
O blog SERVIÇO DE PRETA vem com esta nota prestar todo apoio a Coletiva Feminista Radical Manas Chicas. Sabemos que é muito difícil construir qualquer movimento que vá contra a corrente ,a luta feminista sempre enfrentou diversas ameaças e resite as custas de muito trabalho. Há quem acredite que não há mais tanto trabalho, há quem diga que nenhum espaço é mais negado pra nenhuma mulher, tem quem acredite que algumas mulheres já tem até a liberdade de fazer o que quiserem com seus corpos. Nós feministas abolicionistas sabemos que não é verdade. Nenhuma mulher é livre, nenhuma movimentação nossa é livre de milhões de vigias do patriarcado que esperam só uma chance pra nos açoitar. Resistir ao movimento de massacre é complicado, existir é quase impossível e nos unir para conversar sobre tudo isso, é um atrevimento que custa muito pra nós, mas também ao patriarcado. A coletiva MANAS CHICAS assumiu uma postura muito corajosa quando lançou o "festival SÓ AS MANAS", para reunir mulheres e conversar assuntos que em qualquer espaço não exclusivo esta cercado por observadores com a missão de não permitir que as mulheres se sintam a vontade pra falar sobre elas. O evento foi ameaçado desde o lançamento da ideia, até o fim do encontro. Não é novidade alguma tentarem impedir mulheres de falar sobre: violência obstetrícia,violência psicológica, violência sexual, violência doméstica, menstruação, sexualidade, maternidade lésbica e outros assuntos que apareceram no encontro, sob ameaça de violência física, exposição na internet e exclusão de espaços físicos.
A Coletiva Feminista Radical Manas Chicas proporcionou um evento seguro e muito importante para o fortalecimento de muitas mulheres. Depois do evento acompanhei alguns depoimentos e em todos eles tinham em comum o " muito obrigada por este dia".
O evento veio num momento de desgaste enorme, desentendimentos e afastamentos do feminismo justamente porque o medo havia ganhado espaço. O medo de ser perseguida, violentada, excluída, ridicularizada, estuprada, amordaçada por ser mulher, pairou
na cabeça de muitas e neste sentido o encontro ajudou a fortalecer e libertar as amarras. Como é possível sendo feminista, sabendo o quão difícil é em todos os sentidos organizar qualquer evento/encontro, [como achar um lugar? Como ser possível que todas cheguem sem gastar muito? Como manter o evento funcionando ( comida )? E o tempo pra organizar que nunca sobra? E a disponibilidade das mulheres pra poderem estar fora de casa ( empregos com carga horária exaustiva, filhos, proibição da familia, etc)] não apoiar um evento desses? A coletiva manas chicas enfrentou, organizou, reuniu, e foi um sucesso!
Nós sabemos que estas violências vem em nosso sentido porque somos mulheres e porque resistimos. Então que estejamos juntas para que Nenhuma mulher seja silenciada, vigiada e impedida de lutar. Todo meu apoio e força ás membras do coletivo, sem deixar de manifestar apoio específico a membra Maíra Maximiliano, feminista radical negra brutalmente atacada e exposta na web por se posicionar politicamente organizando o evento, eu só tenho a oferecer um abraço apertado em nome dos laços que nos unem contra o racismo e misoginia. Mesmo sendo uma, somos muitas, por isso mesmo não sendo um coletivo, decidi me posicionar como blog que tem em média 4 mil visitas por mês, a maioria de mulheres e mulheres negras que acompanham, se constroem e reconstroem a partir desse espaço. É por nós, por amor e por respeito á luta das mulheres.
Este blog é feminista: materialista, lésbico, abolicionista, antirracista e apoia a coletiva MANAS CHICAS
Eu mulher negra RESISTO
Aline Dias
Nascer mulher define existência social, diz ONU
Plenário aprova inclusão de feminicídio no Código Penal
ONU mulheres
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
A ‘Neguinha do Espanador’ da Estrela e a certeza de que não somos todas iguais.
"MEU DESENHO É QUE SEU DESEJO NÃO ME DEFINA" . Ellen Oléria
Nome: Neguinha do espanador.
Nós, mulheres negras não somos tratadas como as mulheres brancas. Nós somos vistas dentro da categoria mulher como produto sub humano, fêmeas que nasceram e estão naturalmente dispostas a servir. Nós ainda somos vistas assim, nós ainda somos tratadas assim e quando denunciamos esses olhares e tratamentos aos nossos colegas e amigos logo alguém trata de dizer que é exagero. A foto acima ,é de uma boneca pensada, desenhada e aprovada pra ser vendida pela estrela, a boneca esta sendo vendida agora, em janeiro de 2015 e seu nome é " neguinha do espanador". Numa mostra de bonecas, essa era a única boneca negra.
As crianças nascidas menina e na cor branca, tem representações que precisam ser revistas e delas retiradas vários esteriótipos, porém estas meninas de cor branca tem escolhas porque existem vários tipos de esteriótipos de bonecas brancas á venda. Já as escolham que existem para as meninas negras estão entre "ser branca" ou escolher uma boneca faxineira.
As representações são muito importantes na construção das pessoas, nós aprendemos através daquilo que observamos no mundo em vivemos. As imagens foram feitas pra comunicar, os objetos foram feitos pra criar ligações que vão nos moldar como seres humanos. O que uma imagem e objetos carregados de esteriótipos ruins comunica? O que as crianças negras estão aprendendo sobre elas e o que as meninas brancas estão aprendendo sobre o que é ser uma menina negra?
Todas estas perguntas já possuem respostas e infelizmente as respostas são carregadas de muita tristeza e solidão. Solidão porque nós negros, falamos sobre isso inicialmente porque sofremos isso, depois continuamos falando porque nos juntamos em coletivos e movimentos negros, movimento socialistas, movimentos de mulheres e continuamos a fazer as mesmas denuncias, mas o silencio da cor é ainda uma barreira á ser quebrada em muitos espaços. Esta boneca da foto, é um simbolo do capitalismo, sistema que não vive sem racismo, e um capitalismo que não esta nem um pouco preocupado com as leis do país ou de querer fingir ser legal pra ganhar dinheiro de mais da metade da população. Se eles fizessem uma boneca legal venderiam, não venderiam? sim! e muito. Mas porque então fizeram esta? Porque esse modelo?
Bem, várias hipóteses podem ser levantadas, eu arrisco a dizer que esse é o modelo de mulher negra que os desenhistas, ou melhor, A desenhista, modelistas e empresários que pensaram, desenham, fabricaram e investem na venda dessa boneca percebem na sociedade, no mundo deles. Esse é o modelo de mulher negra que eles percebem e que querem vender. E se der problema, quem irá denunciar? Quem vai faze-los retirar esse objeto criminoso das prateleiras? Tem tem força contra o capital?
Felizmente hoje, 20 de janeiro de 2015, as crianças negras possuem internet, onde podem assistir desenhos antigos e até de outros países onde possuem personagens negros livres de esteriótipos. OPA peraí, a população negra ainda é excluída do meio digital e não tem acesso livre a internet, sendo maioria de quem acessa em lan houses e pagam por hora. Bem, a população negra ainda conta com os artesanatos e os artistas que criam coisas especialmente para o público negro. AHHHHH mas também é complicado! São poucos artistas que estão espalhados pelo Brasil, e ainda com problemas de mobilidade, visto que os micro empreendedores negros sofrem racismo na hora de solicitarem empréstimos bancários ou outros auxílios para aos seus negócios. As crianças negras que tem acesso á brinquedos e desenhos com personagens negros livre de esteriótipos racistas, são raríssimas exceções. São crianças que não estão na linha de pobreza e é possível conta-las nos dedos. A maioria esmagadora das crianças pretas brasileiras tem acesso á pouquíssimas bonecas negras e nenhuma de marca expressiva, ou seja, as bonecas que elas veem na TV ou na mãos das amiguinhas são sempre brancas, com cabelos lisos e cheias de esteriótipos machistas.. Continuamos assim sendo objeto de fetiche para pessoas brancas abastadas, porque barbie negra tem, mas custa mais que o salário mínimo no Brasil e tentando construir nossas meninas negras como podemos, e com certeza fazendo ainda muito pouco porque apesar de sermos maioria no país, são poucas as pessoas que tem acesso as informações de maneira completa e tem viabilidade de colocar alguma coisa em prática, as barreiras são muitas.
Não estou defendendo que meninas devam brincar de bonecas, sendo um objeto que nos ensina a como ser mães e tem todo um problema de machismo por trás. Eu estou defendendo que crianças negras, sobre tudo meninas negras tenham a opção de se verem representadas de várias maneiras dentro da sociedade na qual elas fazem parte, e principalmente, que possam escolher. Estou defendendo que as mães negras possam passear com suas filhas num corredor de brinquedos e possam escolher qual é mais bonito e mais honesto pra sua filha. Defendo que nenhuma criança na escola tenha uma boneca preta pra fazer de emprega na hora da brincadeira em conjunto, e que nenhuma menina seja socializada em meio ao racismo. Nós que fomos designadas meninas, temos muito em comum, mas enquanto vocês forem criadas como princesas e nós como serviçais, será impossível conseguirmos lutar pela mesma igualdade.
Abaixo coloco um vídeo de um RAP muito bom, cantado pela Preta Rara. Esse RAP é muito verdadeiro em cada rima cantada. Deixo também o documentário " Cores e Botas", a história desse documentário fez parte da minha infância e tenho certeza de que as meninas negras da minha geração passaram por situações parecidas. As situações desses videos entram nos corações das mulheres negras como verdade porque nós passamos por isso e nós não queremos que mais nenhuma criança tenha essa vivência racista.
MENINAS NEGRAS NÃO BRINCAM COM BONECAS PRETAS. SOMOS TODAS IGUAIS PORQUE VOCÊS NOS REJEITAM?
CORES E BOTAS
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