domingo, 11 de maio de 2014

AFalsa Abolição e o feminismo performático


4 comentários:

  1. Saudações, preta!

    Gostei muito da sua postagem e ando percebendo os mesmos problemas quanto ao feminismo negro atual, sobretudo o que se manifesta na internet. Sinto que nossas pautas estão sendo diluídas, que nós estamos abraçando acriticamente teorias e propostas pós-modernas, acreditando numa falsa e superficial solidariedade com mulheres brancas (na real, não consigo confiar nelas) e reproduzindo práticas e pensamentos típicos de um feminismo branco. Acredito que, numa tentativa ingênua e ao mesmo desesperada, estamos procurando nos incluir dentro de pautas e movimentos que pouco têm a ver conosco, como a Marcha das Vadias, principalmente quando essa participação não carrega nenhuma crítica ou intervenção. Enfim, gostaria de conversar mais com você sobre isso.

    Beijos,
    Fernanda

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  2. Oi Preta

    Que bom que gostou e comentou! Fico muito feliz quando recebo esse carinho de volta.. Demorei pra escrever esse texto porque a intenção não é contribuir para uma divisão maior entre nós, mas sim apontar que o caminho que muitas d nós esta seguindo poderão nos causar problemas sérios.

    Infelizmente muitas irmãs pretas foram seduzidas pelo "palco virtual" e estão acompanhando um jeito de fazer feminismo que não nos contempla, é preciso que existam outros lados e outras versões do feminismo perto, para que a gente consiga achar o caminho certo. Eu não entendo a marcha das vadias, mas sei que se as moças brncas querem fazer, que façam, mas pra nós essa marcha não cabe. Não acredito porém que entre feministas brancas estaremos com o inimigo, elas não são o inimigo, mas também não entendo como irmãs exatamente como sinto com as pretas. Nosso caminho é meio diferente e como não há nenhum tipo de manual a gente fica meio perdida né?

    sem duvidas que entrarei contato com você, nós pretas precisamos estar mais juntas e retomar esses laços que foram desfeitos pelo patriarcado e pelo racismo.

    Beijo!

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  3. Olá, tudo bem?
    lendo seu texto pensei sobre alguns pontos que tenho debatido ultimamente.
    Já estive em grupos "feministas" e já rompi com alguns grupos também.
    à época, falávamos sobre performatividade e pensávamos sobre a toeria queer entre outras questões, pois a causa justa de nosso rompimento foi a lesbofobia e transfobia nesses esaços de mulheres heterossexuais e cisgêneras.

    Passado um tempo, revejo muitos casos como aquele e ainda hoje muitos grupos de mulheres "feministas" excluindo negras, lésbicas, trans e travestis e suas respectivas bandeiras de luta.

    Estas exclusões não me parecem meramente obras do acaso ou coincidencias.
    Por que grupos feministas não dão visibilidade à lésbicas negras? À trans negras ou travestis negras?

    Pois suas bandeiras tem data e hora marcada para acontecer, são necessidades urgentes de um tipo certo de mulher. Quem é essa mulher?

    Chego a seguinte conclusão: o feminismo só exercerá um papel revolucionário se chamar alta e claramente pelo levante de todos os oprimidos;
    deve compreender que a opressão histórica de ontem e hoje tem classe, raça, gênero e sexualidade definidas!

    A transformação radical da vida quebrará correntes, e acredito que não será elegante, pacífica, heterossexual, nem branca, nem cisgênera.

    Abraços, continuamos na luta.
    Elena.

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  4. Oi Del Mastro,

    Existem muitas teorias feministas, cada uma com um fundamento diferente, cada teoria e cada prática feminista tem um ponto de partida mas todas as teorias feministas visam proteger e conquistar espaços para as mulheres. Há coletivos que dão maior enfase para a arte, outros grupos preferem agir nas ruas em protestos comuns, outras preferem estar dentro de organizações socialistas, enfim, as frentes são muitas. Cada uma trabalhando de um jeito pra chegar no mesmo lugar, tudo é feminismo desde que o principio de luta seja o mesmo.
    Nenhuma exclusão é sem querer. Nenhum recorte é sem querer. Por isso mesmo há um recorte feminista, não é possível abraçar todas as lutas, não é possível ao mesmo tempo cuidar de todo mundo. O patriarcado impõe que mulheres sejam maternais e façam todo o trabalho sozinha, não é possível. As mulheres foram ensinadas a se odiar por muito tempo, odiar seu corpo, odiar seus órgãos genitais e odiar ter que cumprir um papel idiota e sem sentido, é na contra mão disso que o feminismo caminha.

    Assim como os movimentos negros não podem cuidar dos problemas dos indígenas e dos japoneses, trazendo para dentro do movimento negro, o movimento feminista não tem que fazer a mesma coisa com outras bandeiras. O que não impede de forma nenhuma de apoiar. Apoiar significa dizer: olha, reconhecemos que você sofre, e terá o nosso apoio para o que precisar. E não significa: Ei, vem cá, venha lutar conosco porque somos todos iguais e sempre cabe mais um. São duas coisas bem diferentes, mas há quem goste de fazer assim. O que percebo é que na ânsia de abraçar o mundo, algumas teorias feministas, principalmente as teorias liberais estão abandonando o foco e invertendo a ordem do principio feminista que é reunir, unir e lutar pelas mulheres. Eu acredito que a socialização e nossa construção história faz a gente ser quem somos e só entre nossos pares nos sentiremos completos. Conversar sobre negritude em movimentos mistos é importante pra quebrar preconceitos, mas entre negros é bem mais confortável e seguro. Conversar sobre problemas femininos entre mulheres é bem mais seguro e confortável do que em ambientes mistos, e assim também é pra falar sobre coisas relacionadas a lesbiandade. Lugares mistos são importantes, mas os exclusivos são essenciais porque só nossos pares nos compreenderão tudo aqui que passamos sem nos questionar. È terrível estar com medo o tempo todo de ser acusada de algo que talvez você nem tenha percebido, então é importante poder desabafar a vontade. O apoio é algo fundamental em qualquer luta, mas tentar sequestrar essa luta é desonesto. Muitas foram as vezes que pessoas brancas tentaram ter voz dentro do movimento negro e acusavam os próprios negros de serem racistas, separando os membros, acredita? Pois é, agora estão tentando fazer algo aprecido entre as mulheres. Incrível como o jeito do opressor é sempre o mesmo.

    Responder a questão sobre “o que é uma mulher” é bem facil, dificil mesmo é lidar com a má-fé, maldade humade humana e misoginia. “O feminismo” são muitas correntes, eu acredito que o feminismo liberal não é suficiente para quebrar todas as correntes necessárias porque não vai à raiz dos problemas estruturais da classe mulher. Se o feminismo liberal não chega nem a resolver os problemas estruturais, que dirá todos os outros que estão sendo agregados com essa promessa? O feminismo não vai agregar todos os oprimidos, assim como o movimento negro não vai fazer isso. São duas coisas completamente diferentes que se conversam, não são a mesma coisa e é preciso que existam espaços exclusivos e mistos em momentos diferentes para assuntos e lutas diferentes. Quebrar correntes é necessário, mas o que vejo no feminismo liberal é a criação de novas correntes. Acredito que os meios de luta são vários, que todas nós estejamos no front, cada uma com sua bandeira e respectivo apoio.

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