Eu, mulher negra, RESISTO!
terça-feira, 27 de outubro de 2015
No espelho, é uma mulher preta ou um blackface?
Reflexões direcionadas a menos de 1% da população negra brasileira.
Quando algumas teóricas, principalmente feministas falam em seus textos sobre "ser liberal", há uma confusão no entendimento do sentido de liberalidade, sendo tratada as vezes como oposição ao conservador, portanto bom! Vamos refletir um pouco sobre isso? O sentido liberal de se apropriar das ideias e ações tem colocado todas as ações do movimento negro contra a parede pois nessa onda de "quebra de caixinhas", quebra-se também a ideia de cultura afro descendente. Se a ideia da auto identificação é a ideia que esta sendo reproduzida, como então podemos continuar sabendo quem é negro no Brasil? Qualquer ser identificado culturalmente pode ser negro, não é? Pois bem, concordar com isso é ser liberal. Fazer teoria, pensar o futuro, entender as relações raciais academicamente, esta num plano muito diferente das ações, é impossível pensar na materialidade da quebra de caixinhas quando as pessoas morrem por terem fenótipo, cor, religião e cultura ligadas ao continente africano. Pessoas estão morrendo e não tem o poder de se auto identificar branca pra fugir disso.
A auto identificação, parte de um projeto politico liberal, é irresponsável e tem lugar de fala muito bem decretado, afinal, quem tem o poder de se auto identificar numa sociedade racista? Então manas, cuidado. Não é possível escrever sobre apropriação cultural de turbantes e dreads ao mesmo tempo que compactua com a quebra de caixinhas. É preciso refletir sobre o que se esta defendendo., sem promover um estardalhaço quando uma colega usa a palavra -liberal- num texto, reflita sobre que liberal é este, e é em oposição á que? Em muitas discussões já vi a ideia central desaparecer porque ficaram discutindo sobre o uso da palavra liberal seguido por acusações de conservadorismo, por isso achei que deveria desenhar logo no inicio que quando escrevo "liberal", é no sentido de entrar na onda do que deu errado para a convivência das mulheres brancas. e incluir todo mundo dentro dessa lógica sem pelo menos pontuar que tem problemas.
Nós estamos tentando nos incluir em que exatamente? Nós queremos seguir os passos do feminismo branco como se tivéssemos atrasadas, chegando agora nas discussões? Queremos seguir os mesmos passos do feminismo branco criando categorias de mulheres?Será que ainda não estamos contaminadas pelo pensamento da corrente única? É claro que nós temos todo um trabalho de auto estima que é muito recente, mas partir pro viés do consumo de make pra se sentir bonita, aceita, e portanto mulher não irá nos libertar, muito pelo contrário, nós precisamos refletir sobre o que é ser "mulher" pra essa sociedade que estamos tentando nos incluir, será que somos mulheres? ou estamos tentando/querendo ser? Se somos mulheres, a partir de quando isso é real?
Me preocupa que nós pretas, com acesso á leituras diferentes, militantes acadêmicas com vontade e atitude de mudança, estejamos concordando e colaborando pra essa produção feminina preta que não rompe correntes de opressão. Qual a nossa responsabilidade enquanto representantes ? Por mais que queiramos ser estudantes comuns, não somos e não seremos enquanto o racismo excluir os nossos. Por isso precisamos refletir sobre nosso papel enquanto acadêmicas, esse novo lugar. Entendo que representar um povo é também pensar num projeto de futuro, refletir sobre onde estamos indo e se estamos indo. Quando participo de coletivos ou eventos feministas protagonizados por mulheres brancas, percebo que nós pretas estamos anos luz á frente com nossas práticas, mas que enquanto teóricas, estamos repetindo os mesmos erros porque ainda estamos caminhando dentro da lógica eurocêntrica para pensar as mulheres negras na sociedade brasileira. Porque recusamos as produções e reflexões do mulherismo africana? Porque não nos atentamos as produções latino americanas? porque não olhamos para as favelas em volta, para os núcleos familiares não completamente assimilados pela cultura branca? Será que nosso espelho esta rachado? Será que alguns de nós apesar do trabalho com muito amor pela população afro, ainda esta com a máscara branca? Onde podemos buscar estas respostas?
Manas, nós estamos inquietas por esse momento tão esperado pelas nossas famílias e pelas que vieram antes de nós. É um momento de abertura e nós tomamos nós lugares com a força intelectual que temos e estamos brilhando com vários goles de "white tears", brindemos á isso, embora eu prefira outras bebidas. Cá estamos, num momento diferente do que foi a academia para as nossas intelectuais Sueli Carneiro, petronilha, Luislinda e tantas outras que abriram caminho na foice. Nosso tempo é outro, qual será nossa contribuição? O momento é nosso.
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