sexta-feira, 25 de julho de 2014

Hoje é dia de feminismo preto, e quem se importa?



Há dois anos escrevi um texto para o blogueiras feministas sobre o dia das mulheres negras, latino americanas e caribenhas e nomeei o texto de " 25 de julho, o dia das outras mulheres". Esse texto foi escrito meio que as pressas, e quando me foi dado o tema, acreditei que deveria logo falar sobre racismo porque era o que mais me incomodava naquele momento.  Pouco tempo depois de escrever esse texto eu me afastei completamente das atividades tanto feministas quanto do movimento negro e fiquei só de olho no desenrolar das coisas. Hoje, dois anos depois e recém de volta a militância ativa, percebo um outro cenário. Hoje o feminismo negro esta melhor organizado, existe alguma representatividade e existem muitos textos feministas por um viés negro sendo upados todos os dias na internet. Há muitas coletivas que entenderam que é preciso abrir espaço para as pretas e esta rolando um debate bem bacana. 

Em dois anos percebo muitos avanços, acho que o principal avanço é o surgimento e crescimento do blogueiras negras, que publica textos com frequência e textos que dialogam bem com a maioria das pretas, acalentando muitos corações que estavam abandonados sem referencia. Eu apoio e acho muito bom que mulheres se organizem e escrevam, nesse ponto todo avanço é positivo. Mas além de avanços positivos, houveram avanços negativos também.  

O racismo continua presente em todos os espaços e agora com novas roupagens. As feministas brancas perceberam que discutir racismo é importante para a pratica feminista, mas também descobriram que levantar o assunto de forma desonesta desvia o foco de assuntos importantes, e divide mulheres. Redescobriram um truque racista e machista famoso mas que estava esquecido: Culpabilizar mulheres e incumbir as mulheres pretas a missão de salvar o mundo. Caso a gente se recuse, seremos lembradas de tudo o que passamos com o racismo e toda a dor que a sociedade nos causa por sermos pretas. dessa forma suja, estão colonizando os espaços criados e mantidos por pretas. Racismo velho, antigo e que infelizmente seduz por causa da velha ideia de aceitação, quase um slogan " Olha só,  são pretas mas nos aceitaram". Infelizmente o assunto "mulheres negras" e racismo ainda é usado como bucha de canhão para dividir mulheres. Infelizmente, cada vez mais cresce entre feministas o fetiche sobre negritude. A loucura social sobre " o que é ser negra", e o impedimento social de negar a negritude de alguém, como se fosse um crime dizer que uma pessoa não é negra, quando ela não é. Infelizmente nos círculos feministas maiores a negritude esta se tornando uma energia, um sentimento, uma ideia que pode ser apropriada por quase qualquer um, e muitas pretas na ânsia de serem aceitas, corroboram com esse novo projeto de negritude, mesmo sem entende-lo direito porque no minuto seguinte que aplaudem uma pessoa branca se afirmando negra, se entristecem com uma outra pessoa branca usando um turbante como coroa, por exemplo. A impressão que tenho é que se a pessoa branca, que se diz negra for uma pessoa amiga, pode, mas se for uma pessoa desconhecida é desonestidade. Eu estou tentando entender esses mecanismos, mas não esta fácil, eu sou de um mundo onde ser negra é ter a pele escura ( em vários tons), e outras características físicas que dizem que você não é branco, características que isoladas não representam muito, características que conversam com afrodescendência, mas aí o papo é outro.

Enfim, em dois anos observo muitas mudanças, avanços significativos e retrocessos absurdos, mas eu acredito que os avanços são absurdamente maiores e mais importantes do que os retrocessos porque os avanços alcançam muito mais mulheres e acolhem estas que estavam representativamente abandonadas. Percebo que as mulheres comuns, que não querem likes na internet e nem serem aceitas por grupos virtuais rejeitas essas teorias malucas sobre negritude, podem até ler, podem até eventualmente curtir, mas sabem que na vida real ser preta é ser preta, e não uma ideia fetichista, seja ela antiga ou moderna.  A maior parte dos textos que acompanho nos blogs são de teorias feministas que eu não concordo tanto, mas eu fico muito feliz em ver pretas que antes tinham a vida bem distante do feminismo, compartilhando textos escritos e publicados por mulheres negras. Estas mulheres leem estes textos e se sentem bem com eles, de alguma maneira estes textos tem facilitado a conversa sobre feminismo e tem ajudado muitas mulheres a reconhecerem o machismo e racismo do dia a dia, por isso é bom que continuem a serem escritos e devemos apoiar ou no mínimo não repudiar( sobre os textos que discordamos). Foram textos escritos por pretas que me aproximaram do feminismo, e só assim eu me interessei pelas teorias e fui estudar pra saber onde me encaixo. Fico feliz que muitas outras pretas estejam se aproximando do mesmo jeito e que de alguma maneira eu possa ajudar, mesmo com meus textos ácidos. Hoje, 25 de Julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, um dia de celebrações mas principalmente um dia de reflexão porque apesar dos avanços, ainda somos " as outras mulheres", façam um balanço, visitem as páginas feministas e observem: Quem esta falando sobre este dia? Qual a reflexão feita nestas páginas? porque dizer que nós somos lindas não precisa, nós já sabemos. 


Pretas sim, feministas também, vamos juntas em frente na luta antirracista!








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