Mulheres negras fundaram o primeiro movimento feminista no Brasil
Desde 1820 uma sociedade de mulheres negras é responsável por uma das mais ricas manifestações culturais do país: A festa Nossa senhora da Boa Morte, em cachoeira, Bahia. Realizada todos os anos no fim de semana mais próximo a 15 de agosto, a iniciativa é um exemplo único de sincretismo religioso. A Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte surgiu nas senzalas e tinha como objetivo alforriar negros ou dar-lhes fuga. Com o fim da escravidão, as senhoras que participavam do movimento se aproximaram da Igreja, fundando a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte. De todos os tesouros que preserva espalhados em suas ruas, a pequena cidade baiana de Cachoeira é detentora de uma das manifestações culturais mais ricas do País: a festa de Nossa Senhora da Boa Morte. Mais do que uma simples comemoração – é um convite para ingressar num mundo onde cultura, tradição, história e magia convivem e se confundem.. a Irmandade da Boa Morte, uma organização de mulheres negras que à sua moda resistiu e se rebelou contra os sofrimentos impostos pelo regime escravagista, desde a jornada diária de trabalho de 18 horas nas lavouras aos castigos e mutilações, como o corte dos tendões das fujonas, os açoites em público, os grilhões e brasas em seus rostos, a extração e quebra de dentes a frio e o corte de orelhas e da língua daquelas consideradas mais afoitas. Sem falar dos abusos sexuais. Nesse cenário surge a Irmandade da Boa Morte, que é quem até hoje organiza a festa em Cachoeira. Esta sociedade de mulheres negras, escravas e libertas que fundou a primeira casa de candomblé keto no Brasil.
Para preservar sua identidade cultural e fugir das
terríveis punições impostas pela Igreja católica da época, as primeiras
irmãs – as mães, mulheres e irmãs de escravos fugidos – começaram as
cerimônias e rituais pedindo a intercessão de Nossa Senhora da Boa
Morte.
Elas vendiam quitutes nas ruas para comprar a carta de alforria
de outros escravos. Pediam, então, a ajuda de Nossa Senhora para
libertar os escravos e conseguir voltar à África de-pois da morte. Atualmente, a Irmandade é integrada por cerca de 30 senhoras – houve um tempo em que esse número chegou a 200. Embora neguem, são elas que continuam realizando secretamente os mesmos rituais aos deuses africanos dos tempos da escravidão, incluindo aqueles feitos durante a festa da Nossa Senhora da Boa Morte. Em Cachoeira, a festa de Nossa Senhora é realizada desde o início do movimento abolicionista. Durante 68 anos, entre a organização da Irmandade (1820) até a decretação da Lei Áurea (1888), as irmãs faziam um ritual secreto e sem as cerimônias católicas. A despeito de todas as alterações ocorridas com o passar dos anos, a Irmandade mantém rígida a sua hierarquia. A principal figura continua a ser a Juíza Perpétua. Ela não é escolhida por meio de votação ou por qualquer outro meio, mas por reunir uma série de pré-requisitos, tais como ser negra, ter mais tempo de Irmandade, ter a idade cronológica avançada, comprovada devoção à Santa e, principalmente, conhecer os meandros da Irmandade. O racismo presente em nossa sociedade faz com que nem as feministas conheçam e reconheçam estas mulheres como feministas, mas um
grupo de mulheres unidas que resiste a séculos de opressão e todo tipo
de exclusão e tortura certamente deve ser conhecido e admirado por todas as
mulheres do mundo. A irmandade da boa morte é um exemplo de que mulheres
podem sim ser unidas.
Uma Irmandade da Boa Morte foi criada em São Paulo no século XVII. A princípio estabelecidos na igreja do Carmo, as irmãs inauguraram um templo próprio em 1810. Esta igreja possui peças de grande valor histórico, como e a imagem do Senhor Bom Jesus, vinda da igreja do Pátio do Colégio. Voltada para o antigo caminho da corte (Várzea do Carmo, atual bairro do Brás), era utilizada como mirante durante o II Reinado, para avistar figuras ilustres que chegassem a São Paulo, hoje localizada no Convento de Nossa Senhora do Carmo dos carmelitas. A irmandade da boa morte de cachoeira não deve ser vista como uma festa apenas, é uma manifestação viva de resistência histórica. Resistência que ainda existe sentido de existir, é memória viva e não folclore, teatro de épocas passadas. Estas mulheres representam e cuidam a seu modo, de todas as mulheres, principalmente as mulheres pretas que tem sua história apagada a cada passo. Resistir historicamente, negramente é muito dificil.Resistir historicamente e negramente é muito dificil no Brasil, tudo o que os africanos e afrodescendentes construíram de bom, bonito e rico tende a ser convertido em produto euro- brasileiro,fazendo parecer que o legado africano foi apenas dor, sofrimento e morte. não foi.
onde se reune atualmente a Irmandade, em São Paulo?
ResponderExcluirSílvio